quinta-feira, 11 de julho de 2013

Convivência


Sério. Quem foi que teve essa ideia? É óbvio que um jogo desses não daria certo. Primeiro porque eu desisto das coisas, segundo porque tenho duas tendências muito fortes: o desinteresse e a pretensão. Quando tirei essa carta diabólica da pilha, tive que fazer uma escolha. Eu poderia mandar um sms qualquer pra uma amiga insuportável, dizendo o tanto que ela é insuportável e o tanto que isso me incomoda (desinteresse), ou eu poderia levar a coisa a sério e falar com alguém que realmente tenha alguma importância na minha vida (pretensão). Então mandei um e-mail pro meu pai.

É importante, antes de tudo, explicar como funciona a dinâmica aqui em casa. Todo mundo se ama, não existem conflitos explícitos e a gente fala de tudo, menos das coisas que importam. Isso significa que a gente pode passar horas divagando sobre um filme, um cantor novo ou o casamento flopado daquela prima de São Paulo, mas nunca conseguimos falar sobre o que a gente sente. Existe uma camada bastante espessa de medo que impede essa comunicação. Na maioria das vezes, descubro que minha mãe está preocupada comigo porque meu irmão mais velho me conta. E olha que minha mãe faz o tipo dramática. Ela até já ensaiou algumas dessas conversas um pouco mais profundas, mas percebeu que não era uma boa ideia, já que tudo o que a gente conseguia fazer era chorar.

Já o meu pai é incrível. Ele sempre foi pra mim algo muito próximo do inabalável. Nunca vi Sr. Bala chorando. Nunca vi Sr. Bala brigando com Sra. Bala. Nunca vi nada disso, que seres humanos costumam fazer. O que é uma segurança e também um problema. Só que, de uns tempos pra cá, ele tem perdido o brio. E eu sabia que era por minha causa. E só quem já fez o pai ou a mãe sofrer (todo mundo, duh) sabe como isso é ruim.

Então hoje mandei um e-mail pra ele. Escrevi no carro, pelo celular mesmo, vários parágrafos. E todos dizendo basicamente a mesma coisa: eu sei que você tá triste e sei que é por minha causa. A gente não é muito bom de papo, então, por favor, aceita esse e-mail como uma tentativa desesperada de comunicação. Beijos.

E ele ainda não respondeu.

Pedro Bala

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