quarta-feira, 17 de julho de 2013

Olhe-se atentamente em um espelho


Fui conversar com  aquela lá do espelho assim, frágil mesmo, despida de pré-julgamentos, intenções, emoções e roupas. Pronta pra apanhar de quem mais sabe achar defeitos. Acontece que me surpreendi. Ali estava uma mulher com certo olhar de desafio. Ensaiei algumas críticas sobre o corpo, o cabelo, a pele, enquanto ela respondeu quase gritando "e isso importa?". 

De fato, foi-se o tempo em que eu não soube me aceitar. Tudo porque o olhar dos outros pesava e o esforço inútil de tentar agradar cansa. Se não tivesse colocado os pés no chão seria impossível aceitar os limites que a natureza me impôs. Por isso pessoas bonitas me assustam, são como seres mitológicos, vencedoras de um prêmio que exibem orgulhosas por onde andam.

Imaginando como os outros me enxergam é que o olhar de desafio do reflexo no espelho faz sentido. Demorei muito pra aprender que minha aparência boa ou ruim não agride ninguém, portanto, quem decide sobre nossas qualidades somos nós mesmos. Conheço uma professora que ficaria feliz em ver como assumi uma postura de "protagonismo" diante da vida.

E quando estar fora do padrão estético não é nenhuma falta de consideração à humanidade cria-se uma concepção de liberdade maravilhosa. O corpo se conecta com a alma e sem máscaras as pessoas ficam bem mais interessantes.  Foi assim que conheci os prazeres de me deixar levar sem culpa e sem medo para o que der e vier, foi assim que me tornei mulher tão livre e à vontade com a minha natureza quanto um animal selvagem.

Ana Terra

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