Não é nenhuma surpresa que o meu primeiro desafio seja algo social. Não que eu acredite que as forças do destino estejam trabalhando para que toda segunda e quarta eu escolha uma carta relacionada àquele exato momento da vida, mas é certo que ando precisando de um empurrão pra interagir mais com as pessoas ao meu redor. Na verdade, timidez e medo dificultam a aproximação com quem não se tem muita intimidade. Daí, fica a questão, se não diz nem 'oi' não tem como conhecer gente nova, participar de conversas diferentes e dizer que se aventurou. Depois não vale reclamar da rotina...
Pois então, decidi cumprimentar as pessoas desconhecidas na rua, no metrô, nos corredores da Universidade, no ônibus com um sorriso e ver como elas respondem a essa sutileza. E aquele pessoal que já conheço, bom, esses eu pensei em surpreender. A ideia foi abraçar, perguntar como estão e falar algo que sempre quis dizer e nunca achei oportunidade adequada. O interessante é ver a reação de cada um.
O susto já veio pela manhã, quando abracei a minha mãe e percebi que quase nunca faço isso, algo simples, mas imagino que ela esteja desconfiada até agora. Durante o dia, fiquei tão tensa em alcançar a meta que me vi mandando vídeos rápidos cumprimentando meus amigos fazendo umas caretas.
Mas "hoje topei com alguns
Conhecidos meus
Me dão bom-dia, cheios de carinho;
Dizem para eu ter muita luz
E ficar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho"
Fico pensando como a solidão deve superar tantos outros sentimentos, já que é capaz de tomar conta de todos os caminhos de uma pessoa, cujo único destino é se tornar paranoica e obcecada em esconder o sofrimento, para não causar pena. Sendo que a pena vem toda dela para si. Talvez seja para evitar essa loucura que nos arriscamos todos os dias a sair nas ruas, olhar para as pessoas e conversar, tentando desesperadamente criar algum laço, mesmo que ilusório.
Diário de Chico Buarque à parte, é chegado o clímax da história. Acontece que um menino me chamou pra viver uma tarde lá na rua dele e eu fui. Ri, senti, refleti, flutuei na minha existência singela, porém capaz de mudar o mundo. Abandonamos as obrigações e fomos para a dimensão que nenhuma criança deveria ser obrigada a sair, aquela em que nada é levado a sério, porque nada é realmente sério. Cumprimentamos a vida e a nós mesmos de um jeito tão espalhafatoso, que se os críticos de cinema estivessem assistindo a cena teriam vangloriado e destacado como uma das mais despretensiosas e engraçadas do ano.
E como foi distribuir sorrisos para os desconhecidos na rua? Então, os rapazes do carro do gás responderam com assovios e beijos assoprados no ar. Se isso não elevar qualquer auto-estima, eu não sei mais o que elevaria.
Ana Terra
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