Meu medo é ficar tão
presa à ideia de expor minha opinião sobre o tema oferecido pela
carta do dia, que esse texto termine em pedidos de desculpas e
agradecimentos pela amizade de muitas pessoas. O que não teria
sentido algum, já que essas dificilmente irão ler tais declarações
ingênuas e desesperadas. Então, aproveitei a necessidade de sair de
casa e resolver uns problemas para observar as pessoas na rua e ver o
que é amizade explícita nos outros. Só procurando manter o olhar
em quem estivesse acompanhado, grupos, duplas de amigos.
Me senti uma Vulcana
recém chegada ao planeta Terra analisando as relações humanas. E
notei um padrão, crianças se divertem juntas sem pudores, enquanto
os adultos sempre estão desconfortáveis, mesmo com conhecidos.
Parece que depois de uma certa idade você é obrigado a aceitar que
convivência é obrigatoriamente difícil, lembrando que é de bom
tom assumir uma postura de respeito com outros adultos. É eminente a
necessidade de ter educação, porém é triste perceber como
desenvolvemos uma bolha de frieza, envolvendo e nos acobertando do
perigo de se aproximar demais dos outros.
Tá certo que ser super
sincero é uma insensatez, mas algo me impede de gostar das pessoas
que parecem estar interpretando quem elas gostariam de ser. Fazer
isso é perder a própria essência e o mais triste é não perceber
como isso tudo se resume a medo de se divertir. Conheço um cara que
sempre precisa fingir que está bêbado quando saímos, depois de um
tempo todos ficam meio constrangidos, mas ninguém nunca teve coragem
de dizer que percebeu ele jogando a bebida fora em algum canto.
Amizade verdadeira está em admitir algumas questões, porque se
sente seguro e confortável, quando não é o caso, ninguém pode se
forçar a nada.
Temos dificuldade em
descobrir grandes amizades, porque as perdemos na época mais pura da
vida. Um conto me fez perceber isso muito bem, O corpo, do Stephen
King, história que ficou ainda mais conhecida depois que foi
adaptada no filme Conta comigo. Nele quatro meninos de personalidades
bem diferentes fazem uma jornada para encontrar o corpo de um rapaz
desaparecido. Apesar do objetivo macabro, a trama não é sobre
morte, o que está em realce é justamente a relação entre os
meninos, amizade que não julga, escolhe ou tem interesses,
simplesmente existe. O filme termina com um dos personagens
principais, já adulto, dizendo:
“Eu nunca mais tive amigos como os que tive quando tinha 12 anos… Meu Deus, e alguém tem?”
Quanto a minha lista de
amigos verdadeiros, está feita. Mas é feio divulgar essas coisas.
Só essa ordenação por “grau de amizade” que não faz sentido,
não existe um medidor, na realidade, categorizar a amizade é
inviável. Muda de pessoa em pessoa, e às vezes, a gente nem
consegue descrever com palavras o que alguém representa, só ama e
pronto. Tem coisa que não precisa explicar.
Ana Terra
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